João Bosco/Aldir Blanc
Sai com a patroa pra pescar
No canal da barra uns siris pra rechear
Siri como ela encheu de me avisar
Era o prato predileto do meu compadre Anescar
Levei arrastão e três puçás
Um de cabo outros dois de jogar
De isca um sebo da véspera, e pra completar cachaça Iemanjá
Birita que dá garantia de ter maré cheia
Choveu siri do patola, manteiga, azulão, um camaleão,
No tapa a minha patroa espantou três sereias.
Na volta ônibus cheio, o balde derramou
Em pleno coletivo um gato se encrespou
O velho trocador até gritou: - não bebo mais!
Siri passando em roleta, mesmo pra mim é demais!
De medo o motorista perdeu a direção
Fez um golpe de vista, raspou num caminhão
Pegou um pipoqueiro, um padre, entrou num butiquim
O português da gerência, quase voltou pra Almerim...
Quiseram autuar nossos siris
Mas minha patroa subornou a guarnição
Então os cana-dura mais gentis
Levaram a gente e os siris pra casa na Abolição
Depois do "té logo", "um abração"
Fui botar os siris pra ferver
Dentro da lata de banha
Era um tal de chiar, pagava pra ver
Tranqüilo o compadre Anescar colocando o azeite
Foi um trabalho de cão, mas valeu o suor
Croquete, bobó, panqueca, siri recheado, fritada e o cacete.
O Anescar chegou com uma de alambique
Me perguntou se eu era Mendonça ou Dinamite
Abri uma lourinha, trouxe um prato de croquete
O Anescar mordeu um, feito que quem come gilete
Baixou minha patroa: Anesca, que qui há?
O Anescar gemeu
dieta de lascar
O médico mandou que eu coma tudo que pintar
Até cerveja e cachaça
Menos os frutos do mar.
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