Cadernos de Música

A idéia principal do "Cadernos de Música", é a de um blog onde se pode ouvir a música e cantar acompanhando a letra. Aqui, colocarei tudo o que sempre gostei de ouvir e cantar da MPB e Música Latina

Mostrando postagens com marcador Zé Ramalho. Mostrar todas as postagens
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Zé Ramalho

Tão indecente
Foi o jeito que essa mina descarada, 

arranhada, repulsiva
Me jogou de repente
Eu já sabia das suas intenções maléficas 

contra mim
Por isso me precavi com todo alho e cebola
Que eu consegui comprar
Mas o que eu não sabia era que você
Era exata e precisa nos seus movimentos
Por isso, confesso,
Estou num terrível astral!

Mais um capítulo
Da novela colorida, dolorida, masculina,
Que eu pedi pra ver
O personagem que encenava contramão
Do gancho à oficina telepática me sorria
Como um camafeu
Só me admira é que essa transa toda
Vai acabar
Caindo nas costas da pessoa 

que vos fala e relata
O que aconteceu!

Minha família
Mandou-me um cartão postal
Pois tal cartão conseguiu me fazer chorar
E o reco-reco que eu brincava, ei mãe
A senhora me bateu porque 

eu troquei por um isqueiro
Pra poder fumar…
Um tal negócio ou coisa parecida
Que faz bem ou mal à saúde
Não interessa, mãe
Eu quero ir à Sodoma pra poder fumar

Zé Ramalho

Corriam os anos trinta
No nordeste brasileiro
Algumas sociedades 

lutavam pelo dinheiro
Que vendiam pelas terras
Coronéis em pé-de-guerra
Beatos e cangaceiros

E correr da volante
No meio da noite, 

no meio da caatinga
Que quer me pegar

Na memória da vingança
Um desejo de menino
Um cavaleiro do diabo
Corre atrás do seu destino
Condenado em sua terra
Coronéis em pé-de-guerra
Beatos e cangaceiros…

E correr da volante
No meio da noite, 

no meio da caatinga
Que quer me pegar

Zé Ramalho

Cachorro latindo, chorando sem pai
O tempo mentindo 

que o vento do norte não sabe soprar
O mar se levanta com tal desespero
Que eu penso que a terra 

não sente a cratera querendo lavar
Levar a cabeça pro fundo do mar
E ver que essa areia de grãos tão pequenos 

é chão de um país
Que foi que eu fiz pra não merecer
Um beijo mais quente que a boca do povo viria dizer?
Dizer que me amas, que és meu amor
Mas onde procuro a cor desse olho é denso negror
É como o bafejo da Hidra de Sal
Dragões do meu sono, 

que rasgam anúncios na televisão!

Eu tenho um espelho cristalino
Que uma baiana me mandou de Maceió
Ele tem uma luz que alumia
Ao meio-dia reflete a luz do sol

Zé Ramalho

Levantam-se bem cedo as meninas

E banham-se no lago de Albarã
Reflete nas bandejas cristalinas
O rosto enrugado da manhã
Um terço da população da terra
Um resto de comida que sobrou
Um preso que fugiu de madrugada
As balas que perseguem o meu amor

De noite acendo a tocha do meu olho

Farol do Cabo-Branco secular
Desato as correntes do meu grito
E falo dos mistérios desse mar
Escuto a gargalhada de Netuno
Que no Atlântico me abrigou
A correnteza louca dessa vida
Me arrasta para bem longe do meu amor
Me arrasta para bem longe do meu amor

Zé Ramalho/Alceu Valença

As borboletas estão voando

A dança louca das borboletas
Quem vai voar não quer dançar
Só quer voar
Avoar!

As borboletas estão girando

Estão virando a sua cabeça
Quem vai girar não quer cair
Só quer girar… Não caia!

As borboletas estão invadindo

Os apartamentos, cinemas e bares
Esgotos e rios e lagos e mares
Em um rodopio de arrepiar

Derrubam janelas e portas de vidro

Escadas rolantes e nas chaminés
Se sentam e pousam em meio à fumaça
De um arco-íris se sabe o que é....
Se sabe o que é.... se sabe o que é!

Zé Ramalho

Eu entendo a noite como um oceano

Que banha de sombras o mundo de sol
Aurora que luta por um arrebol
De cores vibrantes e ar soberano
Um olho que mira nunca o engano
Durante o instante que vou contemplar
Além, muito além, onde quero chegar
Caindo a noite me lanço no mundo
Além do limite do vale profundo
Que sempre começa na beira do mar

Por dentro das águas há quadros e sonhos

E coisas que sonham o mundo dos vivos
Peixes milagrosos, insetos nocivos
Paisagens abertas, desertos medonhos
Léguas cansativas, caminhos tristonhos
Que fazem o homem se desenganar
Há peixes que lutam para se salvar
Daqueles que caçam em mar revoltoso
Outros que devoram com gênio assombroso
As vidas que caem na beira do mar

Até que a morte eu sinta chegando

Prossigo cantando, beijando o espaço
Além do cabelo que desembaraço
Invoco as águas a vir inundando
Pessoas e coisas que vão arrastando
Do meu pensamento já podem lavar
No peixe de asas eu quero voar
Sair do oceano de tez poluída
Cantar um galope fechando a ferida
Que só cicatriza na beira-do-mar

Zé Ramalho

É aquela que fere
Que virá mais tranqüila
Com a fome do povo
Com pedaços da vida
Com a dura semente
Que se prende no fogo 

de toda multidão
Acho bem mais do que 

pedras na mão
Dos que vivem calados
Pendurados no tempo
Esquecendo os momentos
Na fundura do poço
Na garganta do fosso
Na voz de um cantador

E virá como guerra
A terceira mensagem
Na cabeça do homem
Aflição e coragem
Afastado da terra
Ele pensa na fera 

que o começa a devorar
Acho que os anos irão se passar
Com aquela certeza
Que teremos no olho
Novamente a idéia
De sairmos do poço
Da garganta do fosso
Na voz de um cantador

 
Zé Ramalho/Alceu Valença/Geraldo Azevedo

Ela me deu o seu amor / Eu tomei
No dia 16 de maio / Viajei
Espaçonave atropelado / Procurei
O meu amor aperriado

Apenas apanhei na beira-mar

Um táxi pra estação lunar

Bela linda criatura / Bonita

Nem menina nem mulher
Tem espelho no seu rosto / De neve
Nem menina nem mulher

Apenas apanhei na beira-mar

Um táxi pra estação lunar

Pela sua cabeleira / Vermelha

Pelos raios desse sol / Lilás
Pelo fogo do seu corpo / Centelha
Belos raios desse sol

Apenas apanhei na beira-mar

Um táxi pra estação lunar

Zé Ramalho/Otacílio Batista

Numa luta de gregos e troianos
Por Helena, a mulher de Menelau
Conta a história que um cavalo de pau
Terminava uma guerra de dez anos
Menelau, o maior dos espartanos
Venceu Páris, o grande sedutor
Humilhando a família de Heitor
Em defesa da honra mentirosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor

Alexandre figura desumana

Fundador da famosa Alexandria
Dominava na Grécia e destruía
Quase toda a população tebana
A beleza atrativa de Roxana
Dominava o maior conquistador
Sendo ela vencida, o vencedor
Entregou-se à pagã mais que formosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor

Na velhice o sujeito nada faz

A não ser uma igreja que visita
Mas se um dia encontrar mulher bonita
Ele troca Jesus por Barrabás
Lembra logo seu tempo de rapaz
E diz pra ela: "Me ame, por favor"
A resposta que tem é: "Não, senhor
Sua idade passou, deixe de prosa"
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor

Zé Ramalho

Nada vejo por essa cidade

Que não passe de um lugar comum
Mas o solo é de fertilidade
No jardim dos animais em jejum
Esperando alvorecer de novo
Esperando anoitecer pra ver
A clareza da oitava estrela
Esperando a madrugada vir
E eu não posso com a mão retê-la
E eu não passo de um rapaz comum
Como e corro, trafego na rua
Fui graveto no bico do anum
Vez em quando sou dragão da lua
Momentâneo alienígena
A formiga em viva carne crua
Perecendo e naufragando no mar!

A papoula da Terra do Fogo

Sanguessuga sedenta de calor
Desemboco o canto nesse jogo
Como a cobra se contorce de dor
Renegando a honra da família
Venerando todo ser criador
No avesso de um espelho claro
No chicote da barriga do boi
No mugido de uma vaca mansa
Foragido como Judas em paz
A pessoa que você mais ama
No planeta vendo o mundo girar

Zé Ramalho

Baby!

Dê-me seu dinheiro que eu quero viver
Dê-me seu relógio que eu quero saber
Quanto tempo falta para lhe esquecer
Quanto vale um homem para amar você
Minha profissão é suja e vulgar
Quero um pagamento para me deitar
Junto com você estrangular meu riso
Dê-me seu amor que dele não preciso!

Baby!

Nossa relação acaba-se assim
Como um caramelo que chegasse ao fim
Na boca vermelha de uma dama louca
Pague meu dinheiro e vista sua roupa
Deixe a porta aberta quando for saindo
Você vai chorando e eu fico sorrindo
Conte pras amigas que tudo foi mal
Nada me preocupa, de um marginal!

Zé Ramalho

A sombra que me move

Também me ilumina
Me leve nos cabelos
Me lave na piscina
Em cada ponto claro
Cometa que cai no mar
Em cada cor diferente
Que tente me clarear
É noite que vai chegar
É claro que é de manhã
É moça e anciã

O pelo do cavalo

O vento pela crina
O hábito no olho
Veneno lamparina
Debaixo de sete quedas
Querendo me levantar
Debaixo de teus cabelos
A fonte de se banhar
É ouro que vai pingar
Na prata do camelô
É noite do meu amor

É noite que vai chegar

É claro que é de manhã
É moça e anciã

Zé Ramalho

Eu desço dessa solidão

Espalho coisas sobre um chão de giz
Ah, meros devaneios tolos a me torturar!
Fotografias recortadas em jornais de folhas, 

amiúde…
Eu vou te guardar num pano de jogar confetes
Eu vou te jogar num pano de guardar confetes

Disparo balas de canhão
É inútil pois existe um grão-vizir
Há tantas violetas velhas sem um colibri
Queria usar, quem sabe, 

uma camisa de força ou de vênus
Mas não vou gozar de nós apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar, 

gastando assim o meu batom

Agora pego um caminhão, 

na lona vou a nocaute outra vez
Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar
Meus vinte anos de boy, that’s over baby! 

Freud explica
Não vou me sujar fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom
Quanto ao pano dos confetes, 

já passou meu carnaval
E isso explica por que o sexo é assunto popular.
No mais estou indo embora, 

no mais estou indo embora
No mais...

Avôhai

Zé Ramalho

Um velho cruza a soleira

De botas longas, de barbas longas, 

de ouro o brilho do seu colar
Na laje fria onde coarava sua camisa 

e seu alforje de caçador
Oh meu velho e invisível Avôhai
Oh meu velho e indivisível Avôhai
Neblina turva e brilhante em meu cérebro, 

coágulos de sol
Amanita matutina e que 

transparente cortina ao meu redor
Se eu disser que é meio sabido 

você diz que é meio pior
É pior do que planeta quando perde o girassol
É o terço de brilhante nos dedos de minha avó
E nunca mais eu tive medo da porteira
Nem também da companheira 

que nunca dormia só, 
Avôhai

O brejo cruza a poeira

De fato existe um tom mais leve 

na palidez desse pessoal
Pares de olhos tão profundos 

que amargam as pessoas que fitar
Mas que bebem sua vida sua alma 

na altura que mandar
São os olhos, são as asas, cabelos de Avôhai
Na pedra de turmalina 

e no terreiro da usina eu me criei
Voava de madrugada 

e na cratera condenada eu me calei
Se eu calei foi de tristeza, 

você cala por calar
E calado vai ficando 

só fala quando eu mandar
Rebuscando a consciência 

com medo de viajar
Até o meio da cabeça do cometa
Girando a carrapeta no jogo de improvisar
Entrecortando eu sigo dentro a linha reta
Eu tenho a palavra certa 

pra doutor não reclamar
Avôhai, Avôhai, Avôhai

Zé Ramalho

Eu nunca que me dediquei, 
muito na arte politica
Eu nunca pude ser playboy, 

nem se quer me adiantar
O tempo em que me separei numa razão tão mística, 

um cavaleiro, nunca um cowboy, 
um verdadeiro kamikaze.
Um avião destruidor de lares, 

um passeio pelos ares, 
um megaton de poucas esperanças, 
bombas e lembranças.
E quando eu de lá voltar, 

não sei se poderei ficar, 
aqui onde beijei você deixando tudo pra viver.

 Zé Ramalho


Ainda há pouco, era apenas uma estrela
Uma imensa tocha antes do mergulho
Agora vem à tona
Sua ira é intensa
E você deseja saber
Se há algo
Que possa acalmá-lo outra vez
Os pássaros
A lua cheia e todo o céu leitoso
E todas as formas da natureza
Mostravam a grandeza do mundo
Em lágrimas
Condenado como ulisses
E como príamos
Morto com seus companheiros
Morto com seus companheiros
Morto.... Apareceu.....
No momento em que a lua ia se elevando
E todo pranto forma a imagem do homem
Ainda há pouco, era apenas uma estrela
Uma imensa tocha antes do mergulho
Agora vem à tona
Sua ira é intensa
E você deseja saber
Se há algo
Que possa acalmá-lo outra vez
Os pássaros
A lua cheia e todo o céu leitoso
E todas as formas da natureza
Mostravam a grandeza do mundo
Em lágrimas
Condenado como ulisses
E como príamos
Morto com seus companheiros
Morto com seus companheiros
Morto.... Apareceu.....
No momento em que a lua ia se elevando
E todo pranto forma a imagem do homem

Zé Ramalho


Foi um tempo que o tempo não esquece
Que os trovões eram roncos de se ouvir
Todo o céu começou a se abrir
Numa fenda de fogo que aparece
O poeta inicia sua prece
Ponteando em cordas e lamentos
Escrevendo seus novos mandamentos
Na fronteira de um mundo alucinado
Cavalgando em martelo agalopado
E viajando com loucos pensamentos

Sete botas pisaram no telhado
Sete léguas comeram-se assim
Sete quedas de lava e de marfim
Sete copos de sangue derramado
Sete facas de fio amolado
Sete olhos atentos encerrei
Sete vezes eu me ajoelhei
Na presença de um ser iluminado
Como um cego fiquei tão ofuscado
Ante o brilho dos olhos que olhei
Pode ser que ninguém me compreenda
Quando digo que sou visionário
Pode a bíblia ser um dicionário
Pode tudo ser uma refazenda
Mas a mente talvez não me atenda
Se eu quiser novamente retornar
Para o mundo de leis me obrigar
A lutar pelo erro do engano
Eu prefiro um galope soberano
À loucura do mundo me entregar

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