Belchior

 

No centro da sala,
Diante da mesa,
No fundo do prato,
Comida e tristeza.
A gente se olha,
Se toca e se cala
E se desentende
No instante em que fala.
Medo, medo, medo...
Cada um guarda mais o seu segredo,
A sua mão fechada,
A sua boca aberta,
O seu peito deserto,
A sua mão parada, lacrada
E selada,
E molhada de medo.
Medo,medo,medo...
Pai na cabeceira: é hora do almoço.
Minha mãe me chama: é hora do almoço.
Minha irmã mais nova, negra cabeleira...
Minha avó reclama: é hora do almoço.
Moço, moço, é hora do almoço!
E eu ainda sou bem moço
Pra tanta tristeza.
Deixemos de coisas,
Cuidemos da vida,
Senão chega a morte
(ou coisa parecida)
E nos arrasta, moço
Sem ter visto a vida
Ou coisa parecida
Ou coisa parecida
Ou coisa parecida...