Fagner
Beleza só se tem,
quando se acende a lamparina
Iluminando a alma,
se entende a própria sina
E quando se vê o arame
que amarra toda a gente
Pendendo das estacas,
sob um sol indiferente
Beleza só depois,
de uma sangria desatada
Aberta na ferida
dos perigos do amor
E quando se afasta
a sombra triste do remorso
Que faz olhar pra dentro
para enfrentar a dor
Repara este silêncio
que se estende na janela
Repassa o teu passado
e come o lixo que ele encerra
Vagar sem remissão
é também parte da questão
Juntar estas migalhas
para refazer o pão
Não é da natureza
que ele surge confeitado
Mas é desta tristeza,
deste adubo de rancor
Beleza é o temporal
que suja e corta uma visão
Esmaga qualquer sonho
como um grito de pavor
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