Jorge Mautner


Eu quero ser como a locomotiva

Para atropelar você
Fazendo tchuc, tchuc, tchuc, tchuc, tchuc, tchuc... tchiuí
Por todos os campos, em todos os cantos
Vendo as flores a nascer

Eu quero ser como um gato do mato
Que vive só miando
Fazendo miau, miau, miau, miau, miau...
Chorando acordado, chorando dormindo
Chorando cantando

Eu quero ser como um triste vampiro
Voando pela cidade
Fazendo vum, vum, vum, vum, vum, vum, vum, vum...
Com minha capa sombria, com a mente tão fria
Atrás da felicidade

Eu quero ser como a serpente da água
Que vive só na mágoa
Fazendo pisss, pisss, pisss, pisss, pisss, pisss, pisss...
Comendo a uva, bebendo a chuva
Que do céu deságua

Eu quero ser como um telefone de plástico
Pra ligar só pra você
Fazendo trrrim, trrrim, trrrim, trrrim, trrrim, trrrim...
Alô, alô, quem fala? É o meu grande amor?
Vou saindo pra te ver

Eu quero ser como uma tv colorida
Pra mostrar todas as cores
Fazendo miummm, miummm, miummm, miummm...
Num programa de beijos, de loucos desejos
E de loucos amores

Eu quero ser como um chiclé de bola
Pra estourar na sua boca
Fazendo ploft, ploft, ploft, ploft, ploft, ploft...
Vivendo contente, grudando no seu dente
Ai, que coisa mais louca

Eu quero ser como um carro de praça
Levando a multidão
Fazendo fón, fón, fón, fón, fón, fón... rrrrrrr... fón, fón...
Com o corpo cansado, com o breque quebrado
Na avenida São João

Eu quero ser como um riso de amor
Na boca de um anjo
Fazendo hã, hã, hã, hã, hã, hã, hã, hã, hã...
Em cimas das nuvens, ao lado de Deus
Tocando o meu banjo